sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Resenha Crítica

Com base no texto “Língua e Liberdade” de Celso Pedro Luft.


O texto de Celso Luft nos alerta para algumas noções distorcidas sobre língua, fala e linguagem.
Para o autor “toda pessoa sabe a língua que fala”, todo ser humano é provido de uma gramática universal, ou seja, nasce programado para falar, confirmando a teoria do Inatismo. Toda criança entre quatro e seis anos é uma adulto lingüístico, com capacidade de criar novas frases sem se utilizar de repetição. Essa criatividade é justamente o traço característico da gramática internalizada pela criança.
A “programação” lingüística inata viabiliza a” aquisição da Linguagem”, onde o desenvolvimento da língua é um processo natural, acompanhando o amadurecimento gradual da criança.
A linguagem da criança dentro de um nível cultural e social, dependerá do apoio do adulto em facultar o acesso à comunicação e ao conhecimento da língua, possibilitando o desenvolvimento da criança, através da programação interior de todo ser humano, que nasce, dentro de uma normalidade, instrumentado para falar.
Há princípios na Gramática Universal que norteiam à criança a identificar o que é normal e bem-formado, ou seja, regular e extrair as regras geradoras que se manifestam como eco seletivo.
O texto de Luft é fundamentado na teoria de Chomsky que se distingue em três etapas caracterizadas por estados mentais do falante em formação, a saber: estado inicial, intermediário e estacionário final.
O estado mental final é a fase da segunda infância entre cinco e seis anos, é quando a criança conhece todas as regras fundamentais necessárias á sua comunicação. Trata-se de um conhecimento tácito ou implícito, um saber intuitivo. Esse saber é relativo, pois não há saber lingüístico modelar, ideal completo, perfeito. Esta noção do relativismo lingüístico é indispensável para uma visão realista e sensata dos problemas e processos de aquisição e domínio da língua, inclusive do seu ensino na escola.
O autor sugere que o professor de língua materna deveria ensinar através das deficiências ou distâncias da língua culta que o aluno apresentar ao chegar à escola.
A visão do Celso Luft se foca na discussão do idealismo e do realismo da língua. Por ser um idealista, acredita que as pessoas almejam mais ascensão social, cultural e financeira do que no crescimento lingüístico. Portanto, numa sociedade econômica, social e culturalmente heterogenia, a escola deveria trabalhar a partir da realidade gramatical heterogenia dos alunos.
Outro dado discutido pelo autor é o fato de que o profissional de ensino deveria estar tecnicamente preparado a detectar os contrastes entre as regras da língua, uma vez que os traços dos dialetos de origem dos alunos costumam inferir na língua padrão que devem aprender e praticar na escola.
Celso Luft defende as reflexões de Chomsky, quando diz que a criança constrói intuitivamente uma gramática internalizada e com essa gramática convém trabalhar, reforçando, ampliando até se aproximar da língua culta padrão.
Percebe-se ao ler o livro, que o autor é um discípulo de Chomsky e que concorda com o Lingüista americano a respeito da aquisição de qualquer língua por qualquer criança ao ver nessa capacidade inata, a linguagem ou faculdade de comunicação verbal.
O autor apresenta dez características da teoria gramatical implícita ou a chamada teoria primeira.
1. Teoria Natural. É natural como crescer, desenvolver-se e amadurecer nos demais sentidos.
2. Teoria Intuitiva Implícita. É o saber direto.
3. Teoria Auto-Ensinada. É construída entre a primeira e a segunda infância e não pode ser ensinada/aprendida explicitamente.
4. Teoria Individual. É o saber lingüístico pessoal. A criança é simultaneamente sujeito/objeto – agente/paciente/professor/aluno da aprendizagem da língua.
5. Teoria da Fala. É o saber da língua falada.
6. Teoria de uma variedade de língua. É o saber lingüístico, onde a criança está inserida.
7. Teoria Completa. É o saber lingüístico internalizado. São todas as regras necessárias para os atos de fala da comunicação cotidiana.
8. Teoria Estruturada. É o saber lingüístico estruturado não desintegrado em compartimentos, estanques, a criança internaliza os fatos da língua, estruturalmente, construindo aos poucos sua teoria subjacente, associando sons e significados “amarrando” tudo isso sistematicamente.
9. Teoria dirigida para a prática. É o saber lingüístico para se comunicar com os membros da sociedade onde nasceu.
10. Teoria da comunicação. É o saber lingüístico orientado para uma comunicação eficiente.

Além das dez características da teoria gramatical implícita, surgem às dez características da Teoria Gramatical Explicita. Essa Teoria é chamada de gramática artificial, onde o aluno defronta na escola.
1. Teoria Artificial. Trata-se de um artefato dependente do desenvolvimento cultural.
2. Teoria Explicita Discursiva. Tornar implícito no saber intuitivo dos falantes.
3. Teoria Ensinada por outro. Sermos todos autoditadas, antes de qualquer coisa, com pleno êxito em linguagem.
4. Teoria Social. Ensino formal. É realizado na escola, visando o comportamento social.
5. Teoria da Escrita. Esta teoria preocupa-se com o ato de escrever e com a ortografia.
6. Teoria da Língua. Pretende ensinar a língua como espécie ideal, baseado em livros, onde é considerada em grande parte obsoleta.
7. Teoria Incompleta. É a teoria artificial que não consegue dá conta dos problemas ou hipóteses levantadas sobre esta ou aquela parte do objeto.
8. Teoria Pouco Estruturada. Esta teoria ainda não avançou o suficiente para obter descrição integrais estruturadas.
9. Teoria pela Teoria. A teoria primeira só existe em função da prática (saber as regras para falar), ao passo que a teoria segunda tende a ser teoria pela teoria.
10. Teoria sem Objetivos Definidos. Esta teoria preocupa-se com regras gramaticais artificiais e costuma embaraçar e inibir a expressão.

Ao definir as características da teoria gramatical tradicional, o autor concluiu que a teoria gramatical normativa é assistemática, incoerente, repleta de preceitos, falhas e erros.
Portanto, fica a pergunta após a leitura do texto de Celso Luft: O que nós professores estamos fazendo para melhorar o ensino de nossas escolas?

Bibliografia

LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade - Por uma nova concepção da língua materna. Séries fundamentais, Ática, 8ª. ed.

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